terça-feira, 23 de novembro de 2010

A cereja do bolo

Tem coisa mais gostosa que bolo? Não responda. Bolo de chocolate, de coco, maracujá, baba de moça, de morango com chantilly. Hum, água na boca só de pensar. Mas, na maioria dos casos, bolo é coisa de aniversário. E aí me vem a cabeça aquele ano novo na praia de Copacabana e no bolo que eu levei nesse dia. Note algo estranho: bolo em dia de ano novo? Mas bolo é coisa de aniversário, eu acabei de dizer.

Infelizmente, nem todo bolo é de comer e neste caso é algo que todas nós um dia passou ou vai passar. Aquela situação onde você marca um encontro, se produz toda e nada hora H, nada do sujeito. Soa familiar?

Nesse dia tinha marcado um encontro duplo com uma amiga, o que faria desse bolo, se este fosse comestível, um desses de dois andares com bastante chantilly e baba de moça, bem caprichados.

Encontrei com minha amiga e partimos rumo a Copacabana vestindo branco para paz e rosa para amor (antes tivesse vestido amarelo para dinheiro), cheias de esperança e pensamentos positivos, carregando uma garrafa de champagne cidra debaixo do braço. Lá fomos nós. Já tínhamos programado nossa noite. Antes de meia noite encontraríamos uns amigos e, depois dos fogos, partiríamos para nosso double date..

Por algum motivo desconhecido, ou pela incrível falta de sinal telefônico na praia de Copacabana em dia de ano novo, não encontramos o pessoal. Mas até aí estava tudo bem. Eu e minha amiga tínhamos uma a outra e uma garrafa inteira de cidra. Até porque, em quase 10 anos de amizade, aprendemos a dominar a arte de conviver bem entre si, o que fazia a companhia dela melhor do que de muita gente.

Meia noite. Pulamos ondinha com o pé direito, demos “selinho” para dar sorte no amor, rimos e choramos (talvez pelo efeito da cidra). Mais um ano cheio de expectativas começava. Após os fogos, como o combinado, partimos ao encontro dos nossos pretendentes.

Enquanto nos empenhávamos para atravessar a multidão, fomos surpreendidas por um grupo Hare Krishna cruzando o nosso caminho. Eles estavam tocando um mantra, todos felizes e todos carequinhas com seus colares de flores no pescoço. E por mais que tivéssemos pressa, aquela vibração era extremamente contagiante. Tão contagiante que a cada verso eles cativavam um monte de pessoas. Crianças, mulheres, velhos, religiosos, bêbados. Quando percebi, eu e minha amiga já estávamos os seguindo e cantando o mantra com afinco como se fossemos adeptas da religião desde a infância:

“ Harê Krishna, Harê Krishna

Krishna, Krishna, Harê, Harê

Harê Rãma, Harê Rãma

Rãma, Rãma, Harê, Harê”

Mais tarde descobri que este se trata de um mantra de auto-realização, o que fez todo sentido. Aquela animação toda me fazia tão bem que eu teria ido do Leme ao Pontal seguindo a romaria. Mas como mulher de palavra que sou, deixei os Hare Krishnas no meio do caminho e parti para o local marcado do encontro.

Estava começando a chuviscar, mas eu não tinha percebido isso até então, pois ainda estava meio eufórica com toda a agitação anterior. Euforia que começou a passar a mesma medida em que o tempo de espera começou a crescer. Quase como uma função inversa de primeiro grau.

Ficamos esperando, esperando, chuviscando e esperando. Nem sinal. Não restava mais nada a não ser voltar para casa e, a essa hora, os Hare Krishnas já deviam estar lá no Arpoador. Um bolo não é um bolo que se preze se não tiver uma cereja em cima para deixá-lo bem especial. Eis que esta foi a nossa: “A gente não apareceu porque bateu vontade de fazer xixi, aí voltamos para casa”.

Xixi? Com tanta desculpa melhor, esse foi o máximo que eles conseguiram? Fizesse xixi num bar, na garrafa, segurasse o raio do xixi! Eu não sou uma mulher digna de segurar um xixi? Faça-me o favor!

Eu não fico chateada pelo bolo que levei, esse foi o de menos, até porque, eles nem eram tão bom partido assim. O que me deixa realmente arrependida é ter abandonado os Hare Krishnas no meio do caminho. Sim, pois na hora que viramos as costas ao grupo, acho que fizemos uma grande desfeita a Krishna e adquirimos, assim, um carma para o ano que começava.

Veja bem, por acompanhá-los apenas até a metade, o primeiro semestre do ano foi um primor, maravilhoso, cheio de experiências novas, muitas emoções e felicidade. Da metade do ano para lá... Credo! Acho que foi a pior metade de ano que eu já passei em toda minha vida. E não estou exagerando não. Pergunte para minha amiga. Aconteceu igualzinho com ela. Perrengue atrás de perrengue. Felizmente o ano acabou e o astral finalmente teve pena da gente. Afinal, ano novo, vida nova. Mas se, por um acaso, você encontrar um bando de hare krishnas cruzando o seu caminho, siga na fé que é tiro e queda. Só não vai embora no meio! Vá por mim.

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