sábado, 4 de setembro de 2010

“Vai chorar na cama que é lugar quente”

Quantas vezes você já não consolou suas amigas com dor de cotovelo? Quantas vezes elas já não consolaram você? Quem nunca ligou pra amiga no meio da madrugada para desabafar e ela, coitada, não conseguiu entender uma palavra do que você dizia por que você não parava de chorar? Ou então foi bater na casa dela numa hora inusitada com aquela cara de cachorro amuado ansiando por um abraço e um chocolate quente? Todo mundo precisa de um porto seguro!

Eu tenho essa amiga, por exemplo. Toda vez que ela está chateada ela me liga: “posso ir aí chorar na sua cama?” Claro! Amigas são para essas coisas!

Lembro que na época do primário – me senti uma velha agora! – em que eu tinha uma professora de matemática super rígida. Profª Martha Lúcia (só o nome já dava medo... Até hoje tenho problemas com todas as Lúcias que conheço!). Ela sempre berrava/dizia: “Não gostou?! Vai chorar na cama que é lugar quente”, “Não adianta chorar pelo leite derramado”. Hoje em dia até acho que ela tinha razão, também penso que ela devia ter muitos problemas de relacionamento pra ficar dizendo essas coisas a inocentes criancinhas.

Mas voltando ao caso da minha amiga. Sempre ouvia as lamúrias dela atentamente e às vezes me identificava totalmente com o que ela dizia. Era como se ela estivesse descrevendo os meus próprios problemas. A diferença é que ela tinha uma namorada. E eu realmente achava que isso facilitava bastante as coisas. Por várias vezes já pensei: “Meu próximo namorado vai ser mulher! Porque ela vai pensar do jeito que eu penso e a gente nunca vai se desentender!”. Que nada! Pelo visto tem gente que tem dedo podre até pra isso.

A tal da pretendente era uma menina novinha demais e acomodada demais. Eu sempre via os esforços da minha amiga para fazer a relação dar certo, e nada! A menina não mexia uma palha. Do tipo de pessoa que quando fala com você só diz “uhum”, “é”, “ok”, “não”. Você fica levemente deprimida depois de levar um papo com uma pessoa dessas.

Mais me parecia um daqueles casos de rebeldes sem causa com aquele jeitão esquisito, apático e meio depressivo, que não faz nada da vida a não ser tentar chocar a “sociedade”: “Vou virar lésbica, pintar meu cabelo de roxo e cortar os pulsos... Grh” (nada contra as lésbicas e as pessoas de cabelo roxo, ok? Acho até legal). Mas pra mim essa não era uma questão de identidade, era mais uma dessas coisa da idade, dessas que passam com o tempo.

E essa não era minha preocupação. Me preocupava mesmo era com a minha amiga! Meu colchão já estava ficando mole de tantas lágrimas derramadas na minha cama. O pior é que isso não acontece só com ela. Na maioria das relações, em um dado momento, nós passamos a gostar mais da pessoa do que de nós mesmos. Como se tivéssemos que agir bem direitinho para que então o outro, quem sabe, fosse reconhecer todo nosso esforço e fizesse de nós uma pessoa digna de um pouquinho de afeto. Mas quem foi o infeliz que botou nas nossas cabeças que nós temos que implorar por uma migalhinha de carinho?

A partir do momento em que passamos a implorar pelo sentimento de alguém é porque definitivamente algo coisa está muito errado! Essa é a hora que você deve parar tudo e dar um tempo para si mesma! Ok, ok. Não é fácil, eu sei. Mas chegou o momento de procurar um caminho que não seja o do outro e sim o seu. E perceber que a nossa própria vida pode ser bem mais interessante do que a gente imaginava e que, nem sempre, a grama do vizinho é a mais verde.

Essa minha amiga fez isso. Foi dar um tempo, viajar, fazer coisas novas e- muito importante- conhecer gente nova. Fico muito orgulhosa por ela e hoje em dia a acho uma pessoa muito mais feliz e bem resolvida.

Confesso que sinto falta dela chorando na minha cama. Mas sinto mais falta ainda da gente conversando, rindo, falando mal dos outros, dizendo besteiras até tarde da noite. Porque, afinal das contas, amigas também são para essas outras coisas.


Um comentário:

Ian disse...

Parabens pelo texto, ótima escrita quero ler outros hein???
Obrigado pelo conteúdo

Vc sabe de onde surgiu esse ditado?