quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cordeiro de Deus

De todos os caras errados que eu já conheci, esse foi o mais inusitado porque ele, definitivamente, tinha o maior jeitão de “cara certo”. Daqueles que conversa com você, que te escuta, vocês se divertem juntos, até lêem a Bíblia juntos! Peraí! Mas eu nunca fui de ler a Bíblia. Não que eu tenha algo contra, mas nunca tive vontade mesmo. Mas o cara me parecia tão legal que por ele até valia a aventura.

Ele sempre me contava como a fé era importante na vida dele, e como, para ele, era importante ajudar o próximo. Comecei a achar que aquela criatura poderia ser uma pessoa especial, diferente de todos aqueles cujo único interesse é te levar para cama. Um dia, inclusive, ele comentou comigo que achava importante quando as pessoas esperavam até o casamento para “fazer amor”. Que isso deixava a relação muito mais intensa, muito mais pura, como se a pessoa tivesse encontrado sua alma gêmea.

Eu discordo totalmente desse pensamento. Já pensou se você espera esse tempo todo para casar e, quando chega na hora H, descobre que entre você e seu marido não há química nenhuma? O que você vai fazer? Pedir o divórcio? Imagine que situação. Nem todo cara legal é bom o suficiente para te excitar, assim como nem todo cara bom de cama é pra casar.

Lógico que respeitei a opinião do rapaz. No fundo, até achei aquela ingenuidade um tanto fofa. Seguimos nosso trajeto, nos curtindo, lendo a Bíblia. E quando eu estava finalmente convicta de que aquele ser não seria capaz de fazer mal nem a uma mosca, eis que vem a surpresa: “O seu problema é que você quer ficar comigo e, por conseqüência, quer que eu fique apenas com você. E eu não quero! Eu quero sair com outras pessoas. Por sinal, eu tenho um encontro marcado”. Meu olhos não poderiam ter se arregalado mais! Aquele foi o fora mais inesperado que eu já levei. A verdade dói. “Mas como assim? E toda aquela história de casar virgem, e de almas gêmeas?! Ei, volta aqui! Eu li a Bíblia por você, seu safado”. Me senti como a Chapeuzinho Vermelho quando descobre que a Vovozinha na verdade é o Lobo Mau.

Mas acho que a vida imita a arte - ou será que é a arte que imita a vida. Tanto na realidade, quanto na ficção, é sempre assim: eles podem até te fazer sentir melhor, te ver melhor e te ouvir melhor, mas no fundo, no fundo, eles só querem te comer.

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